sexta-feira, 19 de junho de 2009

Retalho 11 - A Crise e o.... Twitter

A crise já chegou ao meu blog!
Há muito que não digo nada!
Quando me apetece partilhar algo convosco o tempo não deixa, quando o tempo deixa.... não me tem apetecido!
Mas, hoje tinha de ser.
Tinha de escrever alguma coisa, ao menos para dizer que ainda estou vivo e não me esqueci de vós.
Mas escrever sobre quê? Sobre...
Automobilismo... está em crise!
Educação.... está em crise!
Justiça.... está em crise!
Economia.... está em crise!
Politica.... está em crise!
Governo... está em crise!
País... está em crise!
BAAAAHHHH.... está tudo em crise!
Já sei... vou escrever sobre o Twitter!!!!
Há uns tempos ouvi falar dele, estava na moda e todos diziam maravilhas. Uns diziam que era uma ferramenta de trabalho, outros uma rede social, outros que era um microblog de 140 caracteres.
Resolvi espreitar, "perder" um bocado de tempo a configurar uma conta, pesquisar uma "dúzia de pessoas" cujo nome era sonante e começar a seguir o que escreviam, tentando interagir com elas, ao mesmo tempo que ia colocando uns "posts" com a minha opinião sobre isto ou sobre aquilo.
Se nos primeiros dias tinha a sensação de ter entrado num "mundo" que não era bem o meu, (conhecia todos os que seguia mas eles, nao suspeitavam sequer da minha existência), com o passar do tempo esse sentimento foi-se esfumando, eles começaram tambem a seguir o que eu escrevia, a comentar o conteúdo, a dar a sua opinião, o número de seguidores foi aumentando e comecei cada vez a sentir-me mais integrado num.... "novo mundo".
Um mundo onde tudo se sabe em cima da hora, onde se partilham opiniões, conhecimentos, experiências, se obtêm ajudas por mais complicadas que sejam, onde a boa disposição é uma constante, a solidariedade não é palavra vã e os títulos honorificos ou posição social não têm peso algum.
Hoje, os 132 seguidores que tenho, partilham o dia aqui ao meu lado na bancada de trabalho, apesar de, pessoalmente, não conhecer nenhum deles!
O Twitter fez-me ter uma outra visão da tal "aldeia global", onde a ficção se transformou em realidade, onde é possivel falar em tempo real com o/a pivot de um telejornal, conversar com o jornalista do artigo que se acabou de ler, saber que na madeira esta o chover naquele momento, que à entrada de Paris há um acidente, acabou de explodir um carro em Bilbao e cai neve em.... Praga.
Como "Twitoviciado" aconselho sinceramente a tentarem a experiência, vão ver que vale a pena "perder" algum tempo a configurar uma conta e a explorar este "mundo".
A todos os meus "twitamigos/as" um abraço muito... muito especial!!!
Um Abraço e até... ao próximo RETALHO

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Retalho 10 - 25 de Abril de 1974

Vai longe, aquela madrugada de Abril de 1974.
Era eu um jovem de 19 anos, estudava e trabalhava.
Como sempre fazia, naquela noite estudava ao som da rádio, ouvi a Grandola Vila Morena, na voz do saudoso Zeca Afonso, pouco passava da meia noite. Nada de anormal, para quem todas as noites ( apesar dos conselhos paternais em contrário) ouvia o programa "Limite", na Rádio Renascensa, até ás 2 horas da manha e já se habituara a ouvir música de intervenção àquela hora!!
O tempo foi passando, as folhas do caderno tambem e, quando já me preparava para ir dormir, eis que o coração acelerou, os olhos se abriram, o corpo saltou da cadeira ao ouvir (já então no Rádio Clube Português) a voz de Luis Filipe Costa dizer.... ""Aqui Posto de Comando das Forças Armadas"...!
Depois... bom,,, depois foi "beber" todas as palavras daquele comunicado num sentimento de emoção indescritível, num misto de contentamento e medo, de alegria e incerteza, de não saber o que fazer!
Pai... Pai... Pai.... rebentou a revolução.... a tropa está outra vez na rua... já ocuparam o Rádio Clube Português, que emitiu agora mesmo um comunicado a dizer..... que os medicos vão para os hospitais!
A emoção era tanta que, por mais que me quizesse recordar, não me lembrava mesmo do que dizia o comunicado, a não ser... "os médicos para os hospitais"!
Recordo a cara ensonada e de espanto do meu pai a levantar-se da cama para se aproximar do rádio do meu quarto com o intuíto de confirmar a veracidade da informação.
Acendeu um cigarro, olhou para mim e disse-me ... deves ter razão... marchas militares na rádio.... "hà coisa mesmo!!!!"
Não foi preciso esperar muito para ouvir de novo o comunicado!
Depois, foi o longo passar das horas à espera de novo comunicado, cigarro atrás de cigarro, até ao nascer do dia, quando chegaram as primeiras imagens de Lisboa via Tv (ainda a preto e branco) de todo um povo já na rua, em apoio inequívoco aqueles que tiveram a coragem de enfrentar um regime politico, colocando em risco as suas próprias vidas!!!
Depois... na tarde do dia 25 e da rendição do Quartel do Carmo, foi o "dar largas á alegria".
Ver um Povo na rua, de braço dado, de abraço em abraço, de saudação em saudação, a entoar Grandola Vila Morena em uníssono, sem distinção de classe social, de credo, de religião, de cor.... apenas de duas cores..... o vermelho dos cravos e o verde da... esperança!!!
Passaram 35 anos!!!
Hoje, sou um homem com 53 anos, que ao longo do tempo teve a honra e o previlégio de conhecer pessoalmente dois capitães de Abril e recordo com muita emoção aquelas dezenas de horas que mudaram a vida de um Povo, mas estou profundamente desiludido com o rumo que o país (letra pequena propositada) tomou e, apetece-me perguntar (lugar comum, eu sei)...
ONDE ESTAVAM, NAQUELA MADRUGADA, A MAIORIA DOS POLITICOS QUE HOJE NOS GOVERNA?
ONDE ESTÁ, A ESMAGADORA MAIORIA DOS MILITARES DE ABRIL... HOJE?
Quem souber que responda!!!!
Um abraço e até ao próximo.... Retalho!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Retalho 9 - Fui ao Cinema

Passados alguns meses após a ultima vez que aqui escrevi, cá estou de volta!
Por isto ou por aquilo, não tenho partilhado nada convosco mas, hoje não podia deixar de o fazer.... ontem fui ao cinema.

Até aqui, nada que mereça ser partilhado a não ser o facto do filme se chamar "Marley e eu.. o pior cão do Mundo", um bestseler que já havia visto inumeras vezes nos escaparates das livrarias, mas que nunca tinha lido.

Por isso resolvi ir ver o filme.

Uma estória como muitas outras para uns, uma mistura de sentimentos e emoções para outros, a recordação de momentos vividos com um cão.

É esse o meu caso!

O Ringo, era um pastor alemão filho da Xana, uma cadela da família, o mais debilitado dos dois sobreviventes de uma ninhada infeliz.

Era um cão adorável, meigo, ternurento, algo destruidor (não tanto como o Marley) e muito teimoso, teimosia que lhe viria a custar a vida, comia tudo o que encontrava na rua (ao contrario da mãe, que não tocava em nada) devorava tudo, apesar dos sopapos no focinho que sempre apanhava.

O Ringo foi lá para casa ainda cachorinho, era uma bolinha de pêlo adorável, roia os chinelos, deitava-se aos nossos pés com a cabeça apoiada neles, enquanto lia-mos ou via-mos tv, dormia aos pés da nossa cama, foi crescendo, crescendo e aos 6 meses já tinha um porte considerável .

Aqui, nasceu a minha filha, a Ana.

Confesso que durante algum tempo esta era uma dúvida que me atormentava... como iria reagir o Ringo ao aparecimento de um bebé lá em casa, alvo de todas as atenções que até ai eram só dele e o que iria acontecer no dia em que Ana viesse do Hospital?

Esse dia chegou e, tal como no filme, feitas as apresentações da "nova inquilina" da casa ele farejou tudo, alcofa, saco das fraldas, bebé e.... nada ficou como dantes.

As minhas dúvidas não tinham qualquer fundamento, o Ringo deixou de se deitar aos nossos pés, de dormir aos pé da nossa cama, para passar todos os momentos do dia e da noite aos pés da alcofa da Ana.

Passaram a ser companheiros inseparáveis, onde estava a alcofa da Ana.... estava ele, em casa, no carro, ou na casa das avós. De tal forma isto acontecia que, uma dada tarde, em casa da minha mãe, ela por distracção fechou a porta do quarto onde tinha colocado a alcofa da Ana para dormir a sesta e o Ringo vendo-se na impossibilidade de ir dormitar ao pe da alcofa, pura e simplesmente montou guarda à minha mãe e á minha avó, não as deixando levantar do sofá, até nós chegarmos. Só depois de se certificar que tudo estava bem com a Ana, se acalmou.

Era um glutão inveterado, para ele uma bolacha era para sorver, engolir sem mastigar, excepto se fosse oferecida pela Ana..... ai comiam os dois... dentadinha a dentadinha.

Morreu com uma perfuração intestinal (depois de uma noite de grande sofrimento) devido a alguma coisa que comeu na rua, graças à sua teimosia e longe da alcofa da Ana, na sala junto ao móvel .... imagem que ainda hoje, quase 30 anos passados, vejo na minha memória com uma nitidez impressionante.

No cinema é apenas um filme, um filme que eu já vivi e partilho convosco.

Um filme em que as emoções e os sentimentos se misturam, se entrelaçam e se confundem, onde se ri a "bandeiras desfraldadas" e se acaba com as lágrimas nos olhos.

Um filme que recomendo vivamente;

Para os que nunca viveram um amor destes, tentarem perceber o que é a relação com um cão;

Para aqueles que, tendo cães, como é o caso do meu filho Nuno e que nunca passaram por esta situação se prepararem, para um dia que, mais tarde ou mais cedo vai chegar;

Para aqueles que, como eu, já passaram por esta experiência dolorosa, recordarem os momentos alegres que viveram e ganharem forças para futuras situações, porque elas são e serão sempre dificeis de enfrentar.

Já passei por outra experiência destas, a Paty e nem quero pensar no que vai acontecer quando for a Xana (outra cadela que tem o nome da mãe do Ringo), o Hoocky ou o Berlinde!
Um abraço e até ao próximo.... RETALHO


domingo, 28 de dezembro de 2008

Retalho 8 - 2008/2009

Passado que está o Natal, aproxima-se a passos largos o final de mais um ano.

É a altura para fazer um balanço do que ao longo dos últimos 365 dias aconteceu, daquilo que fizemos e sobretudo daquilo que ficou por fazer, dos sonhos que conseguimos transformar em realidade e dos que ficaram adiados, do nosso contributo para tornar melhor a vida daqueles que nos rodeiam ou a falta dele, enfim a relação entre o "deve" e o "haver" da nossa vida, assim como o da sociedade onde estamos inseridos.

O ano de 2008, no plano internacional, foi um ano "sui generis", que irá ficar na História como o ano em que se iniciaram grandes transformações na forma de viver das pessoas, como o ano em que finalmente grande parte dos responsáveis mundiais "acordaram" para realidade, que os mais atentos há muito denunciavam e eles teimavam em não ver.

Começou como um qualquer ano "normal", mas logo na sua "infância" se revelou diferente com o inicio da escalada do preço do petróleo, levando proeminentes economistas (eu não percebo nada de economia... mas eles também não!) a prever que até final do ano poderia chegar, catastroficamente, até aos 200 dólares por barril o tornaria insustentável a maior parte das economias dos países.

Na sua "irreverência de adolescente" mostra que algumas das maiores e mais proeminentes figuras da economia financeira mundial, que muitos veneravam e respeitavam, afinal não passavam de reles ladrões sem qualquer tipo de escrúpulos, de princípios, de valores, levando à ruína Países e milhões de pessoas.

Chegado à "idade adulta" revela como as realidades de hoje são relativas e rapidamente se tornam efémeras, o barril de petróleo não só não atingiu os tais 200 dólares, como fecha o ano abaixo dos 40... George W. Bush protagonista de uma das maiores mentiras da História e que levou à morte de milhares de pessoas (a invasão do Iraque) vai deixar, sem honra nem glória, (para alívio de milhões de pessoas) a presidência de uma das maiores potências mundiais agora também a necessitar de ajuda internacional, para tentar equilibrar as suas contas... o Mundo fica mergulhado numa crise de consequências ainda imprevísiveis e finalmente percebe-se globalmente a importância das energias, ditas alternativas.

Cá, neste sítio mais ocidental da Europa, as coisas não foram muito diferentes do resto do Mundo... os combustíveis subiram a uma velocidade vertiginosa e descem em "câmara lenta"... algumas das personagens das revistas "cor de rosa" são os tais ladrões de colarinho branco sem escrúpulos nem vergonha, a quem o poder deixou usufruir de lucros milionários e agora salva nacionalizando os prejuízos que milhões de contribuintes irão pagar... em nome de uma mentira, destruiu-se o sistema de saúde e o ensino público, para benefício de alguns em prejuízo de muitos.

Pessoalmente foi também um ano "sui generis", foi o ano em que abandonei, com alegria e sem qualquer nostalgia, ao contrário do que sempre pensei, a profissão de uma vida e, por força disso, parti à descoberta de novos caminhos quer pessoais quer profissionais.

A tradição manda desejar a todos um Feliz Ano Novo... não o vou fazer!
Apenas formular votos, que ele seja bem diferente deste que agora termina, que se "faça luz" nas cabeças pensantes que nos governam para que exista mais humanismo e menos tecnocracia nas suas decisões, de forma a que os efeitos da crise, provocada por alguns energúmeros, afecte o menor número de pessoas possível... que encerre o menor número de empresas e se perca o menor número de postos de trabalho possível... que as escolas voltem a ser um local de formação e não de confusão... que as pessoas sejam consideradas como Seres Humanos e não como um número (o de contribuinte)... que as crianças voltem a sorrir... SAUDAVELMENTE!!!!

Um abraço e até ao próximo.... RETALHO.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Retalho 7 - Professores e deputados

Um destes dias ao chegar a casa e ligar a tv, vi num dos vários canais, uma daquelas entrevistas típicas em que uma pseudo-figura pública vai a andar com um "batalhão" de jornalistas ao lado, de microfone na mão e a fazer perguntas, às quais o inquirido vai respondendo um pouco a contragosto.
Dizia então o entrevistado que, não tinha podido comparecer a uma reunião plenária do orgão a que pertence uma vez que, na véspera havia participado num jantar de angariação de fundos do Boavista Futebol Clube no Porto, que o mesmo tinha acabado já tarde, madrugada dentro e para percorrer os 320 Kms que separam o Porto de Lisboa de forma a estar presente na referida reunião não poderia dormir, ou dormiria muito pouco, não estando por isso em condições de estar presente.
Ao ouvir tais declarações pensei de imediato.... É "PROFESSOR"!!!!

Sim, porque só essa classe profissional, essa "cambada de malandros" responsáveis por todos os problemas deste sítio, que trabalha pouco mais de uma dúzia de horas por semana auferindo vencimentos chorudos, se pode dar ao luxo de ter tempo livre e dinheiro para participar neste tipo de eventos.

Como têm horário flexível e progridem na carreira até ao topo sem nunca serem avaliados, não necessitam de ter preocupações éticas com valores como a responsabilidade e a assiduidade, podendo ficar a gozar de um retemperador sono, depois de um fausto repasto e sem prejuízo das suas obrigações.

Por tudo isto recordei-me de um colega que tive há anos, pilar de um agregado familiar composto por ele, a esposa, a mãe, o avô e um bebé que vinha a caminho, residente a 520 kms do local de trabalho.

Um bom colega, pessoa de convívio fácil, sempre predisposto a uma brincadeira, a uma laracha e pronto a ajudar quem o necessitasse.

Nas tardes cinzentas de Outono, nas agrestes de Inverno ou nas calmas da Primavera, à sexta feira, por volta das seis e meia, lá se fazia ele à estrada para 8 horas de viagem no seu "confortável" Opel Corsa, (equipado com um sofisticado sistema de ar condicionado, ao tempo que estivesse lá fora), para chegar a casa por volta das 3 ou 4 horas da manhã de sábado.

No domingo, por volta da meia noite quando todos iam dormir, lá se fazia de novo à estrada para mais 8 horas de viagem e outros tantos quilómetros de regresso ao trabalho na segunda feira às 8,30 da amanha, não sem antes tomarmos o pequeno almoço na tascazinha que existia logo ali ao lado.

Não era uma noite sem dormir, nem sequer uma noite mal dormida foi assim durante.... um longo ano!

Era (e espero que ainda continue a ser) o Luís de.... Chaves, "DEPUTADO" de História, na então, Escola Preparatória de Santo André em pleno Litoral Alentejano.

Aiiiiiii... a minha cabeça, será que troquei as Profissões???

Um abraço e até ao próximo.... RETALHO
PS. Se por acaso leres isto Luís.... Um abração tamanho do Mundo.

sábado, 29 de novembro de 2008

Retalho 6 - Tardes de Inverno

Depois dos últimos dias bastante agitados, bem ao ritmo da minha nova ocupação, a informática, onde o tempo se mede em nanosegundos, eis que surgem alguns momentos de acalmia, daqueles em que o tempo passa devagar, fazendo lembrar o calmo entardecer na planície alentejana.
Aqui, tal como no Alentejo nesta altura do ano, está um tempo invernoso de chuva, frio e convidativo à permanência no nosso recanto, junto à lareira, com um bom livro, uma boa música, na companhia daqueles de quem gostamos e nos acompanham nesta caminhada da Vida.
Quando assim é, por entre o bater da chuva na vidraça, do sopro do vento frio lá fora, dos "castelhanos" (em alentejano, faúlhas que se libertam no fogo de quando em vez) a saltar na lareira, sempre nos lembramos daqueles que não estão connosco, de situações que com eles vivemos e recordamos com saudade.
É essa nostalgia e essa saudade que me vai no coração neste momento.
As lareiras tipicamente alentejanas onde nós e o fogo co-existimos no mesmo espaço, naquela chaminé enorme com os enchidos pendurados por cima das nossas cabeças, prontos a descerem em direcção ao fogo, para depois de assados no braseiro, acompanhar um bom "copo", que abrirá o apetite para uma sopa de feijão cozinhada na panela de barro lentamente ao longo do dia, naquelas brasas que também nos aquecem os pés.
Hoje, sentado no sofá junto à lareira, com a companhia do zé gato, diante de um televisor e tentando transmitir as minhas emoções ao teclado de um computador, recordo aquelas tardes de inverno da minha adolescência, onde não tinha estas "modernices" mas sim a companhia de um grupo de pessoas, familiares, amigos, conhecidos, uns mais velhos, outros nem tanto, uns de quem gostava muito, outros nem por isso, e.... a namorada.
Falava-se de tudo, sobre tudo, discutia-se tudo, cara a cara, olhos nos olhos, numa proximidade física que permitia descortinar em cada gesto, em cada olhar, as emoções que iam na alma de cada um de nós.
Sei que, para um ex-professor e agora técnico de informática, posso parecer retrógrado, bota de elástico, antiquado, avesso ao progresso, incoerente, etc... mas não me considero como tal, considero-me apenas alguém que tenta não perder o sentido crítico.
Sou um defensor acérrimo do progresso técnico, do avanço da tecnologia, da colocação de tudo isto ao serviço de todos nós mas.... e há sempre um mas... não posso deixar de lamentar o facto, de tudo isto ter contribuído de forma muito significativa, para que cada vez estejamos mais longe uns dos outros, na ilusão de que estamos mais perto.
Na verdade, as comunicações entre as pessoas estão à distância de um "click", mas elas estão bem mais distantes umas das outras.
Está nas mãos de todos nós corrigir isto!
Um abraço e até ao próximo.... RETALHO

sábado, 1 de novembro de 2008

Retalho 5 - Sábado de.... Portalegre


Portalegre, para a grande maioria das pessoas é sinónimo de uma cidade alentejana, com um papel importante na nossa história, onde nasceram os famosos, a nível mundial, tapetes de Portalegre.

Para os amantes do desporto automóvel é muito mais que isso, é a catedral (não gosto muito do termo porque se pode confundir com o Estádio da Luz) das corridas de todo o terreno no nosso País.

Sei que numa altura de crise económica e não só, falar de desporto automóvel pode parecer ofensivo. Acredito que sim, mas só para quem nunca esteve em Portalegre, para quem nunca viveu aquela corrida por dentro ou por.... fora.

A Baja 500 Portalegre (é assim que se chama a corrida) è uma festa de todos, para todos, e onde cada um "desempenha o seu papel".

Depois de alguns anos como participante na festa na qualidade de espectador, tive o privilégio de participar por dentro, em duas edições, sentado na baquet (nome dado aos bancos dos carros de corrida) do lado direito, ao lado do meu filho.

Foram duas experiências maravilhosas, indescritíveis e que hoje, sentado no sofá, a assistir à transmissão da TV me fazem passar na memória um misto de alegrias e tristezas, de recordações que me enchem os olhos com lágrimas de saudade.

A nossa primeira participação em termos desportivos foi infeliz, uma vez que dois "malvados" parafusos resolveram saltar do seu lugar e fizeram que que ficássemos ao Km 136 de prova, junto a um ribeiro, com uma roda pendurada, por volta das onze horas da manhã.

A nossa corrida acabava ali, a espera que nos viessem "resgatar" no meio da planície alentejana adivinhava-se longa (lá para o fim da tarde) e complicada, uma vez que o único alimento que tínhamos connosco era... água.

Puro engano, tivemos oportunidade de ver in loco e sentir pessoalmente que a corrida é uma festa daquelas gentes, que a solidariedade não é palavra vã por aqueles sítios, e quem vai para participar na festa está em... casa.

Num instantinho apareceu alguém, que encontrou um caminho alternativo, para que a nossa equipa de assistência pudesse chegar ao pé de nós, sem ter de esperar pelo fim da tarde. Colocado o carro em cima do reboque por volta das duas da tarde, fomos como que "forçados" a almoçar com aquela gente que, desde o momento em que saímos do carro até resolver da situação NUNCA nos deixaram sós e foram INEXCEDÌVEIS no apoio que nos deram.

Se alguém que, nesse dia, estava nesse grupo de Funcionários da Câmara de Mora ler estas palavras, o nosso reconhecimento, o nosso.... MUITO OBRIGADO!

Na segunda participação, terminámos a corrida com uma boa classificação por sinal, mas isso aqui é o que menos interessa, interessa sim referir a emoção muito forte, muito intensa, que se sente no fim do dia de sábado quando se chega ao parque de assistência final, a sensação de "missão cumprida", o calor dos abraços das pessoas que durante o dia esperam ansiosamente por aquele momento, a alegria estampada no rosto dos mecânicos porque o trabalho deles deu frutos, as felicitações dos "adversários" que não tiveram tanta sorte e ficaram pelo caminho, tudo isto depois de 500 Kms por fora de estrada, entre montes e vales, ribeiras e lamaçais, montados e eucaliptais, e sempre... SEMPRE... com gente ao longo da pista... ao longo dos 500 Kms. É a unica corrida onde isto acontece, por tudo isto Portalegre é... ÚNICO.

Não me considero saudosista mas, gosto de recordar as vivências porque passei e daí tirar força para correr atràs dos sonhos que ainda tenho, assim, se a "vida" me ajudar e a saúde me permitir... para o ano lá estarei de novo.... no SÁBADO DE PORTALEGRE.

Um Abraço e até... ao PRÓXIMO RETALHO