Depois dos últimos dias bastante agitados, bem ao ritmo da minha nova ocupação, a informática, onde o tempo se mede em nanosegundos, eis que surgem alguns momentos de acalmia, daqueles em que o tempo passa devagar, fazendo lembrar o calmo entardecer na planície alentejana.
Aqui, tal como no Alentejo nesta altura do ano, está um tempo invernoso de chuva, frio e convidativo à permanência no nosso recanto, junto à lareira, com um bom livro, uma boa música, na companhia daqueles de quem gostamos e nos acompanham nesta caminhada da Vida.
Quando assim é, por entre o bater da chuva na vidraça, do sopro do vento frio lá fora, dos "castelhanos" (em alentejano, faúlhas que se libertam no fogo de quando em vez) a saltar na lareira, sempre nos lembramos daqueles que não estão connosco, de situações que com eles vivemos e recordamos com saudade.
É essa nostalgia e essa saudade que me vai no coração neste momento.
As lareiras tipicamente alentejanas onde nós e o fogo co-existimos no mesmo espaço, naquela chaminé enorme com os enchidos pendurados por cima das nossas cabeças, prontos a descerem em direcção ao fogo, para depois de assados no braseiro, acompanhar um bom "copo", que abrirá o apetite para uma sopa de feijão cozinhada na panela de barro lentamente ao longo do dia, naquelas brasas que também nos aquecem os pés.
Hoje, sentado no sofá junto à lareira, com a companhia do zé gato, diante de um televisor e tentando transmitir as minhas emoções ao teclado de um computador, recordo aquelas tardes de inverno da minha adolescência, onde não tinha estas "modernices" mas sim a companhia de um grupo de pessoas, familiares, amigos, conhecidos, uns mais velhos, outros nem tanto, uns de quem gostava muito, outros nem por isso, e.... a namorada.
Falava-se de tudo, sobre tudo, discutia-se tudo, cara a cara, olhos nos olhos, numa proximidade física que permitia descortinar em cada gesto, em cada olhar, as emoções que iam na alma de cada um de nós.
Sei que, para um ex-professor e agora técnico de informática, posso parecer retrógrado, bota de elástico, antiquado, avesso ao progresso, incoerente, etc... mas não me considero como tal, considero-me apenas alguém que tenta não perder o sentido crítico.
Sou um defensor acérrimo do progresso técnico, do avanço da tecnologia, da colocação de tudo isto ao serviço de todos nós mas.... e há sempre um mas... não posso deixar de lamentar o facto, de tudo isto ter contribuído de forma muito significativa, para que cada vez estejamos mais longe uns dos outros, na ilusão de que estamos mais perto.
Na verdade, as comunicações entre as pessoas estão à distância de um "click", mas elas estão bem mais distantes umas das outras.
Está nas mãos de todos nós corrigir isto!
Um abraço e até ao próximo.... RETALHO